terça-feira, 21 de setembro de 2010

A ignorança não astravanca só o progresso

Até para ser bandido, é preciso cuidar do vernáculo... 

sábado, 18 de setembro de 2010

Mães lutadoras

Documentário Luto como Mãe é exibido no NEDD-DH

Luto como Mãe foi exibido no último dia 15 no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque. O documentário de Luís Carlos Nascimento foi debatido por Marilene Lima, Patrícia Oliveira e Mércia Britto, protagonistas e produtora executiva do filme. O público teve oportunidade de fazer perguntas e se emocionar com a luta de mães humildes que perderam seus filhos em ocorrências policiais. O evento faz parte do curso de extensão Direitos Humanos em tela e teve mediação de Patrícia Rivero, professora do NEPP-DH - Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida.

A busca por justiça é retratada em 3 casos ainda sem solução na periferia do Rio de Janeiro. A primeira é a chacina de jovens moradores de Acari em Magé por policiais militares em 1990. O fato deu origem ao grupo das Mães de Acari, que tornou-se referência internacional na luta por direitos humanos no Brasil. A segunda ocorrência ficou conhecida como Caso Via Show, em que 4 rapazes de Guadalupe teriam sido assassinados por seguranças da casa de show. A ação de um grupo de PMs na Baixada Fluminense em 2005 deu origem ao episódio mais recente explorado pelo filme, a chamada Chacina da Baixada. Os casos são narrados pelas mães órfãos de filhos que exigem a punição dos culpados. Impressiona a dignidade com a qual as mulheres lutam e narram seus tragédias ao longo de todo o filme.

A sessão emocionou alunos de serviço social e outras cursos presentes. A rodada de perguntas não escondeu a admiração pelas heroínas do subúrbio e suas histórias de superação. Segundo Marilene, exibições do filme em universidades são muito importantes para a conscientização das futuras gerações, para que se evite que barbáries como as contadas no documentário voltem a acontecer pelas ruas e favelas da cidade. O curso de extensão exibe na próxima quarta "Topografia de um desnudo", filme de Teresa Aguiar sobre a "operação mata mendigos" no Rio dos anos sessenta

- por Saulo Pereira Guimarães

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Novo Aurélio inclui termos da Era Digital

Por Débora Ribeiro Coelho

O dicionário Aurélio ganhou uma edição atualizada e antenada com os verbetes do mundo digital. A versão atual será lançada em outubro e comemora o centenário de seu criador com novos verbos como “tuitar” e “blogar” e substantivos como “pop-up” e “fotolog”. 

As novidades incluem gírias como ‘balada’, e termos que já fazem parte da linguagem coloquial ou que se referem a aspectos ecológicos: ‘ricardão’, ‘chororô’, ‘sex shop’, ‘nerd’, ‘bullying’, ‘flex’, ‘ecobag’. Merece destaque a preocupação em incluir palavras da escrita contemporânea, ‘e-book’, ‘tablets’, ‘blue tooth’.

O novo dicionário cresceu em 6% em relação à versão anterior e possui 137.838 palavras. Para fazer jus à sua modernização é possível baixar uma versão para iPhone.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A China em Rede

Por Débora Ribeiro Coelho

No último dia 8 de setembro, a jornalista chinesa Lijia Zhang esteve no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ para falar um pouco sobre seu livro recém-lançado, “A garota da fábrica de mísseis”. Depois de falar da sua trajetória de vida, abriu espaço para algumas discussões. Dentre elas figurou a censura à Internet em seu país de origem.
 
Lyjia teve no idioma americano o impulso que precisava para se soltar das amarras do regime comunista que vigorava na China. Não absorveu apenas o inglês, mas também o pacote cultural vendido pelos EUA, em especial o ideal de individualismo. Começou, então, a questionar o mundo em que vivia. Queria interagir, sair daquela prisão representada pela fábrica de mísseis onde trabalhava.
 
A chinesa chegou a liderar um movimento dentro da fábrica, no final da década de 1980, como resposta à imposição de regras que tanto a incomodava. Na época buscava informações nos poucos livros disponíveis, num momento em que a educação não era valorizada como hoje.
 
De lá para cá muita coisa mudou na China, como a própria escritora comenta. O governo começou a conceder liberdades individuais porque percebeu que era importante fazer com que as pessoas se sentissem felizes. Entretanto, ainda há restrições e ressalvas. Lyjia escreve para diferentes meios de comunicação internacionais, mas em inglês. Da mesma forma, seu livro não foi publicado na China porque o assunto ainda é considerado um tabu.

Apesar de o país ser a segunda economia mundial, muitos avanços ainda são esperados. Uma das maiores polêmicas quando o assunto é a censura diz respeito à Internet. Segundo uma pesquisa publicada na Revista Exame, a penetração da Internet no país se assemelha à de países desenvolvidos. Dos 420 milhões de usuários, mais de 100 milhões estão nas zonas rurais. Os números representam, de fato, um avanço notável.

Ao mesmo tempo em que se incentiva o desenvolvimento da Internet, o governo continua a empreender uma série de medidas de controle e censura. O acesso a determinados sites não é permitido, como o Twitter ou o Facebook, da mesma forma em que há conteúdos vetados de suas páginas da Web.

Um exemplo prático é o desenvolvimento do Escudo Dourado (popularmente conhecido como a “Muralha da China”), conjunto de medidas técnicas que visam impedir o acesso dos internautas a sites que falam de assuntos como direitos humanos ou protestos em território chinês. Existem, ainda, outros mecanismos empreendidos, embora sempre negados pelo governo.

No início deste ano, a polêmica atingiu a gigante Google, que disse ter sido alvo de hackers chineses e ameaçou sair do país. Como a empresa americana não queria continuar censurando conteúdos a pedido do governo, a solução foi acabar com essa página. Ao acessar google.cn, o internauta é transferido para a página de Hong Kong, que não possui esses cerceamentos.

Em pleno século XXI, quando as informações estão amplamente difundidas, é, no mínimo, contraditório um gigante como a China manter tamanho controle sobre a Internet. O que se espera é que o país invista em algo que vá além do status de potência econômica, dando voz e olhos à sua população sem que para isso seja necessário aprender outro idioma.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Provas e livros

Queridos alunos

Prova para avaliação de domínio do conhecimento das idéias contidas no livro  usado como referência de um tema específico, só o primeiro (Jenkins). Levar fichamento.

As questões de usabilidade serão averiguadas como um aspecto do campo de produção - basta que estejam absorvidos os principais conceitos das Heuristicas de Nielsen, o que exige maior atenção nas leituras,para compreensão do geral da proposta de facilitação de navegabilidade.Fazer fichamento do material lido.

E para fechar o semestre, leituras a respeito da prática jornalística em si serão base para uma conversa, que gerará uma avaliação em grupo. Fazer fichamento do material lido

Não se assustem com a palavra prova. O importante é pesquisar, absorver conceitos e exercer a prática. 

Cada avaliação dos conjuntos temáticos abaixo valerá 1,5 pontos, em um total de 4,5 pontos.Os demais 5,5 pontos virão dos posts do Blogão. O primeiro, só texto, vale 0,5. Os demais, em crescente uso de recursos, valem 1 ponto cada. Lembrando que os pontos serão dados em sua integralidade de acordo com a qualidade do texto, da adequação de uso das ferramentas multimidiáticas e da qualidade da informação disponibilizada no nosso Blog Jornalismo em Mídias Digitais. 


Convergência:
Cultura da Convergência, Henry Jenkins.
Prova dia 15 de setembro.

Usabilidade:
As Heurísticas de Jacob Nielsen 
"Prova" dia 13 de outubro

Web jornalismo:
MACHADO, Elias; PALACIOS, Marcos. Modelos de Jornalismo Digital. Bahia: Ed. Calandra, 2003.
Cartilha de Redação web 2010
CANAVILHAS, João Messias. 
Blog Jornalismo em Mídias Digitais (nosso Blogão)
"Prova" dia 3 de novembro 

Um abração, pessoal.
Cristina

domingo, 5 de setembro de 2010

O jornalismo digital será pluralizado

O recente vazamento de documentos relacionados à guerra do Afeganistão pelo site Wikileaks apenas demonstra mais uma vez a nova ordem da informação no mundo. 40 anos depois do músico e poeta norte-americano Gill Scott Heron ter dito que a revolução não seria televisionada, a rede pode não ser a panaceia para todos os males, mas ao menos dá voz para interesses muito mais variados.

Numa esfera mais variada, blogs e sites de esquerda nacionais têm furado o apoio maciço da mídia à candidatura de oposição e conseguido levar informações mais plurais ao público. No último fim de semana, por exemplo, antes mesmo do diário chegar às bancas, o blog O Biscoito Fino e a Massa, de Idelber Avelar, furou a notícia do jornal O Globo que dizia que foi um ex-filiado do PT quem quebrou o sigilo da filha de José Serra.

As informações existem em abundância para diferentes gostos. Há desde blogs radicais, auto-organizáveis e repletos de teoria até outros que se aproximam da mídia tradicional, com informações atualizadas, mas, mais importante, abertas realizadas de modo plural. Abaixo, Gustavo Barreto, criador do Consciência.net, espaço que reúne textos variados de esquerda, dá suas opiniões sobre as possibilidades que a internet oferece ao ativismo na rede.

Para entender os pontos de cultura



Espalhados em mais de mil municípios do Brasil, os Pontos de Cultura são iniciativas da sociedade civil que, após seleção por edital público, firmam convênios com a Secretaria de Cultura estaduais e o Ministério da Cultura e tornam-se responsáveis por articular e impulsionar ações que já existem nas comunidades. O projeto não visa definir quais serão as ações culturais presentes nas comunidades, mas, ao invés disso, apoiar e auxiliar as que já existem.

Hoje existem cerca de quatro mil Pontos de Cultura espalhados pelo país, que atingem mais de oito milhões de pessoas. Os Pontos não possuem modelo único de instalações físicas, programações ou atividades. Em geral tratam-se de iniciativa que impulsionam a realização de ações envolvendo arte, educação, cidadania cultura com economia solidária.

Os projetos e as localizações prezam pela diversidade e abrangência. Há desde a tradicional ONG Ação Comunitária do Brasil do Rio de Janeiro (ACB), que busca meios de inclusão social no Complexo da Maré há 44 anos, até comissões indígenas no Acre ou grupos de apoio a idosos no Mato Grosso do Sul.

Anualmente, os Pontos de Cultura são incentivados ao debate num fórum chamado Teia. Além disso, os chamados Pontões articulam e dão apoio aos Pontos. Na ECO, funciona um Pontão. Abaixo, Tainá Vital, coordenadora do projeto da Escola, fala um pouco mais sobre os projetos. Para quem quiser mais informações, o site do Ministério da Cultura tem mais informações, e o Mapa dos Pontos traz informações sobre todas as iniciativas.

Autor à deriva

Adriana Barsotti - 4.9.2010 8h00m

Prosa online - O Globo
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/#321665

As novas tecnologias digitais têm embaçado a discussão sobre o futuro da literatura. Confunde-se o destino do gênero com o dos livros impressos. Tal abordagem centra o foco nos suportes (no caso, os e-readers), envolvendo opiniões proféticas e geralmente apocalípticas sobre o fim dos livros impressos. Muito além deste debate, porém, a chamada ciberliteratura, ou literatura eletrônica, concebida para os meios digitais e cuja existência não pode prescindir deles, vem ganhando vida própria. Das várias questões que essa nova forma criativa levanta, o suporte talvez seja a mais irrelevante. A autoria, por outro lado, é uma das principais.
O que diferencia a ciberliteratura da literatura convencional não é o meio em que é publicada, como o computador e os e-readers. A singularidade das obras do gênero reside no fato de terem sido especificamente criadas para o formato digital, explorando todas as suas funcionalidades. Por isso, estão excluídas desse conceito obras originalmente criadas para o suporte impresso e que foram e vêm sendo publicadas por jovens autores na internet ou digitalizadas para serem vendidas em lojas virtuais de e-books. As obras da chamada ciberliteratura se valem de recursos que o impresso não comporta, como áudio, vídeo e programação, entre outros campos com os quais esse gênero interage. Portanto, não se trata de uma nova tecnologia de leitura. A ciberliteratura traz uma nova forma de narrar. E, entre as questões que embaralha, está a do papel do autor.
Na ficção interativa, por exemplo, um dos gêneros da ciberliteratura em que o público pode escolher caminhos diversos para o desenrolar das histórias, quem poderá ser chamado de autor? Esse privilégio continuará nas mãos dos escritores? Podemos considerar que a participação de amadores nas produções literárias cria obras coletivas ou eles apenas participam de um jogo com regras pré-definidas por seus autores? Ao que tudo indica, o escritor atravessa uma crise de identidade a partir do momento em que seu poder é posto em xeque pelas possibilidades trazidas pelas novas tecnologias. Diante das ferramentas interativas que permitem a participação do público, críticos, estudiosos e os próprios escritores oscilam entre a perplexidade, o pessimismo e a confiança, como mostram especialistas ouvidos nesta reportagem.
Novas regras para o jogo literário
Autora de "Hamlet no holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço" (Editora Unesp), a professora norte-americana Janet Murray é referência no campo da narrativa interativa. Convidada do 9 Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, que será realizado em outubro em São Paulo, ela relativiza o poder do autor.
— Autores continuam tendo controle sobre suas histórias, mas num nível diferente. Eles controlam as regras pelas quais os leitores podem se mover em seus romances e o que podem fazer dentro do universo ficcional criado por eles — afirma Murray, que começou lecionando no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e hoje é professora do Programa de Mídia Digital do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta.
Além da ficção interativa, em que leitores interagem com a história e determinam seus rumos, outros gêneros como o crowdsourcing, cuja premissa é a elaboração de conteúdo de maneira coletiva (geralmente via Twitter), ganham impulso. Ano passado, a BBC Audiobooks convidou o escritor Neil Gaiman para dar o pontapé inicial de um conto com uma frase de 140 caracteres, complementado pelos seguidores cadastrados no Twitter. Na esteira do fenômeno, a editora americana Penguin criou o projeto "A Million Penguins", que chamou de "exercício de escrita criativa colaborativa", também com base no Twitter. Todas as contribuições puderam ser editadas ou mesmo removidas pelos usuários.
Autores modernos já questionavam lugar do leitor

A leitura sempre esteve longe de ser uma atividade passiva. Há muito os teóricos consideram o papel do leitor nesse jogo: construindo narrativas alternativas, imaginando personagens, enfatizando tramas da história segundo seus interesses particulares e se utilizando de conhecimentos e crenças prévios para interpretar um texto. Os limites da narrativa tradicional já vinham sendo testados pelos autores antes mesmo dos meios digitais, como lembra Heloisa Buarque de Hollanda, professora da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) e diretora da editora Aeroplano:
— O papel do leitor já é levado em conta há pelo menos 40 anos, desde Jorge Luis Borges e Ítalo Calvino, que geraram uma atitude menos convencional de leitura. Mas o autor legitima, dá valor à obra. Não há dúvida de que ele será preservado. É claro que o laboratório digital é fantástico para desafiar múltiplas posições de autores, mas ainda estamos tateando, inventando essa brincadeira — afirma Heloísa, que se preocupa com o fato de na ficção interativa vários desfechos serem possíveis dependendo das escolhas do público. — O fim é fundamental para o paradigma a que estamos acostumados. Sem ele, não sei como será a experiência literária. Não consigo me deliciar com romances digitais. Falta mais autor neles.
Pesquisadora do PACC e do Espaço Alexandria (Coppe) e coordenadora do curso de jornalismo da ECO-UFRJ, a professora Cristiane Costa deu início este ano à construção de um romance colaborativo como projeto de seu pós-doutorado. A história gira em torno de Alice, uma professora de literatura à beira dos 50 anos, recém-divorciada, e sua busca pelo amor ampliando seu universo de possibilidades no mundo virtual.
— É uma metáfora das chances que a literatura tem de encontrar novos caminhos ao se aproximar das novas mídias. E também da mudança de posição de um leitor que não aceita mais ficar esperando que as histórias se desenrolem passivamente à sua volta e decide estabelecer novos relacionamentos.
Participação do público ainda é vista com ressalvas
Os correspondentes de Cristiane na rede serão co-autores da obra, tendo suas identidades preservadas. Ela se apresenta nos sites como professora universitária, também com pseudônimo. Cristiane é uma entusiasta das novas estratégias narrativas digitais e não vê problema na redução do poder do autor:
— Quanto mais o leitor ganhar poder, menos poder terão autores, editoras e agentes.
Um dos organizadores da primeira mostra internacional de poesia feita em computador, em 1992, na Alemanha, o poeta brasileiro André Vallias (ao lado, em foto de divulgação), que já fez experiências com algoritmos para permutação de textos, critica os autores que utilizam aleatoriamente as novas ferramentas digitais, entre elas as que permitem a participação do público. Curador e participante da exposição Poiesis <>, em 2007, no Oi Futuro, ele partilha da visão de Janet Murray e defende que, por mais que a obra seja aberta, o autor ainda está no comando. Vallias faz um paralelo com o cinema, em que o diretor assina a obra, mas trabalha em equipe.
— Quando alguém afirma que um filme é de Fellini, é uma redução. Basta ver os créditos de um filme. Na minha obra, estabeleço as regras do jogo. Mas é claro que não tenho pleno domínio sobre ele. O público pode gerar situações inesperadas.
A participação do público, porém, é vista ainda com ressalvas até mesmo por aqueles que ousam experimentar. Entre eles, o poeta Fabrício Carpinejar, autor do livro "www.twitter.com/carpinejar" (Editora Bertrand Brasil), em que apresenta 416 máximas publicadas em sua conta no microblog.
— Partilho da concepção do corpo fechado. Vou escrever o início, o meio e o fim da obra, o que não me impede de interagir com os leitores. Ser influenciado é diferente de ser orientado pelo leitor. Os comentários em blogs incitaram os escritores a exercitar outras visões possíveis. Mas não posso abdicar da autoria. Do contrário, não estaremos mais falando de livro, mas de Playstation — ironiza.
É justamente a falta de fronteiras entre diversos campos — artes plásticas, literatura, música e, agora, os games — que a ciberliteratura expõe. A midiartista Giselle Beiguelman (ao lado, em foto de Eliária Andrade), professora da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, acredita que os autores terão que se submeter a "um novo letramento".
— Não é preciso ser um programador de software, mas isso implica um novo aprendizado. Perdemos a relação antropocêntrica, mas a tecnologia tem que ser vista como uma via de mão dupla. Os computadores são máquinas que expandem nosso universo, abrem novas perspectivas. Não são como batedeiras e liquidificadores, que só temos que ligar e desligar — afirma Giselle, autora dos livros "Link-se" e "O livro depois do livro" (ambos pela editora Peirópolis).
A prevalecer a cena atual, podemos esperar um enfraquecimento contínuo dos limites entre autor e público. Resta saber que papéis cada um desempenhará ou se ainda será possível distingui-los no futuro.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DEMOCRACIA DIGITAL

DEMOCRACIA DIGITAL
Lutando pelo controle do futuro da web

Deborah Weinberg

Observatório da Imprensa
Edição 605 de 31/8/2010
www.observatoriodaimprensa.com.br

O grupo que se reuniu diante da sede da Google em Mountain View, Califórnia, era relativamente pequeno. Uma centena de manifestantes apareceu para expressar sua raiva diante do mais recente plano da corporação.

A comunidade online, porém, reagiu com muito mais alarme. Blogueiros nos EUA, Europa e Ásia advertiram contra a ameaça à liberdade na internet, enquanto agências de proteção ao consumidor disseram temer que a interferência no tráfego de dados possa ter consequências imprevistas para a diversidade da mídia. A ministra de proteção ao consumidor da Alemanha, Ilse Aigner, declarou que não tinha a menor simpatia por empresas que "distorcem a competição à custa do freguês".

A causa de toda essa comoção foi aparentemente pequena, uma declaração em conjunto da Google com a gigante de telecomunicações Verizon que, em sete breves itens, assinalou a proposta das duas empresas para uma estrutura regulatória futura para a internet.

A maior parte das sugestões não era espetacular, mas uma em particular teve impacto significativo: as duas corporações pediam aos governos que deixassem que o mercado determinasse se as empresas de telecomunicações deveriam ter permissão de cobrar uma tarifa adicional por certos serviços intensivos de dados – especialmente se os consumidores quiserem acesso rápido. Estes poderiam incluir serviços médicos, jogos online ou a administração da rede elétrica.

Sem discriminação

Até agora, a internet permaneceu na maior parte neutra, sem discriminação, e ninguém teve tratamento preferencial. Blogs são transmitidos tão rapidamente quanto dados da Google. Mas a enxurrada de informações continua a crescer. A corporação de tecnologia americana Cisco prevê que os volumes de dados anuais vai quadruplicar até 2014, para cerca de 767 exabytes (um exabyte equivale a 1 bilhão de gigabytes) –uma capacidade equivalente a 12 bilhões de DVDs por mês.

Em outras palavras, muitos bilhões de euros serão necessários para aumentar a capacidade da internet nos próximos meses e anos. As empresas de telecomunicações temem que isso não será possível se continuarem a jogar pelas regras convencionais. Elas estão flertando há algum tempo com a ideia de uma internet de duas classes, na qual usuários poderiam pagar para ter seus dados transmitidos mais rapidamente. O mais recente passo da Google também atende a essas empresas.

A internet, que tem sido uma obra em constante modificação nos últimos 30 anos, está se transformando em algo novo. Cada vez mais pessoas acessam a internet a partir de telefones celulares. Em vez de programas que exploram a internet, eles preferem um clique único para entrar num aplicativo –um pequeno programa adicional- que permite, por exemplo, que ouçam o rádio via telefone celular.

Uma nuvem crescente

A Web também está sendo usada para transmitir volumes crescentes de vídeos e música, e os dois colocam pressão enorme sobre as redes. Ao mesmo tempo, a proporção de tráfego na internet relacionado ao velho e-mail está encolhendo. Em vez disso, vídeos de férias e fotos de aniversários – coisas que no passado seriam guardadas em casa – agora estão sendo empurradas pela rede, carregadas em serviços como YouTube, Flickr e Picasa.

Essa abordagem relativamente nova é conhecida como computação de nuvens. Graças à "nuvem" globalmente acessível, os computadores domésticos perderam sua importância anterior – os usuários cada vez mais podem guardar seus dados em servidores centrais fornecidos por provedores de telefone ou de internet.

Esse desdobramento aumenta o valor da rede mundial, mas também gera algumas questões. Quem, por exemplo, deve dar as cartas no futuro? Quem deve lucrar de quais aspectos do sistema – o provedor do serviço, o provedor do conteúdo ou o portal do cliente? E quais leis devem se aplicar a esses canais, que são vitais para os indivíduos e para economias inteiras?

Essa discussão vê a colisão de dois conceitos muito diferentes de liberdade. Um lado insiste que os indivíduos devem poder acessar informações livremente a qualquer momento. O outro pede que as empresas que operam o sistema tenham a liberdade de criar novos modelos de negócios.

O melhor esforço não é mais suficiente

Até agora, a internet era operada seguindo o princípio chamado de "melhor esforço", explica Wolfgang Kopf, diretor de regulação da empresa de telecomunicações alemã Deutsche Telekom. Isso significa que qualquer informação enviada pela internet por qualquer cliente é tratada de forma mais ou menos igual, cada pacote de dados direcionado para seu destino independentemente da identidade do cliente ou da importância da informação.

Mas com o aumento do tráfego de dados e serviços fica cada vez mais sofisticado, esse método se torna mais difícil. Transmissões de vídeo entrecortadas, conversas de Skype quebradas e transmissões de eventos musicais televisionados incompletos são consequências possíveis.

Muitas empresas de telecomunicações dizem que será necessário investir muitos bilhões de euros na internet para continuar a garantir serviço não interrompido. Elas também salientam que os que lucraram até agora foram provedores como Google, Apple e YouTube, que não pagam nada e lucram muito. Custos de investimento recaem sobre as empresas de telecomunicações, que estão simultaneamente vendo cada vez mais seus segmentos tradicionais de negócios desmoronarem. René Obermann, diretor da Telekom, não quer que o papel de sua empresa seja reduzido a fornecer acesso a internet para outros.

Enquanto as margens de lucro para provedores de serviços de internet estão cada vez menores, as empresas estão se focando em NGN, das iniciais em inglês para rede de próxima geração. Junto com a plataforma pra transferência de dados, a NGN oferece um nível de controle separado que cria uma capacidade de prover –e cobrar- por serviços expressos.

Os clientes estão dispostos a pagar?

Junto com o tráfego de dados tradicional, ela permitiria o estabelecimento de serviços pagos que o cliente decidiria ativar clicando, por exemplo, em um botão de "alta velocidade". Aplicativos de vídeo ou aplicativos médicos, por exemplo, podem receber direito de passagem, certas buscas podem ser executadas mais rapidamente e extensivamente – desde que, é claro, os clientes estejam dispostos a pagar por esse serviço, como já estão acostumados a pagar por ringtones ou aplicativos.

Desde que o iPhone da Apple conquistou o mercado, as empresas de telecomunicações e provedores de serviços vêm vivenciando em primeira mão o que acontece quando a capacidade de rede é insuficiente. A gigante de telefonia americana AT&T vem lutando por meses com questões de qualidade em sua rede de telefonia celular que levou a perdas de chamadas e algumas vezes a blecautes completos do serviço, especialmente em centros populacionais.

As taxas únicas de serviços e smartphones como o iPhone são algumas das causas desses problemas, assim como o tipo de conteúdo utilizado, especialmente programas de rádio de vídeos, que levam as redes aos seus limites. Mas os clientes e provedores estão ficando cheios com as falhas.

"Ninguém se beneficia de condições como essas", diz Harald Stöber, vice-presidente da Associação de Provedores de Serviço de Valor Agregado em Telecomunicações (Vatm), um grupo que representa as empresas de telecomunicações alemãs que competem contra a antiga detentora do monopólio Deutsche Telekom. Os competidores concordam, por uma vez, com a necessidade de reformular a internet. A reforma pode permitir a criação de novos modelos de negócios na internet, sugere Stöber, e não se deve negar às empresas essa oportunidade.

Preso na pista lenta

Torsten Gerpott, professor de telecomunicações na cidade de Duisburg, na Alemanha, não acha que o projeto da Deutsche Telekom causaria mudanças enormes ao sistema. Os consumidores já pagam preços diferentes para tipos de acesso diferentes, diz ele, que a princípio tem poucas objeções à diferenciação, se a Web estiver de fato passando por problemas de capacidade.

Para os críticos, porém, é precisamente neste ponto em que a liberdade para as empresas colide com a diversidade de opinião. Eles preveem, por exemplo, grandes empresas alugando uma pista virtual rápida para seus serviços e conteúdo, com empresas iniciantes e blogueiros críticos relegados aos canais para dados regulares, o equivalente online a uma estrada de terra.

"Empresas como a Verizon querem determinar quais dados são transmitidos mais rápido, quais são mais lentos e quais nem são transmitidos –e quem paga quanto. São tentativas de colonizar a nova esfera pública da internet", diz Gundolf S. Freyermuth, professor de estudos aplicados da mídia da Escola Internacional de Cinema em Colônia.

Organizações de proteção de dados e direitos do consumidor colecionaram exemplos de situações nas quais a internet e empresas de telecomunicações podem ter abusado de seu poder sobre os dados. Em um caso de 2004, de acordo com centros de direitos do consumidor alemães, a fornecedora de internet Freenet bloqueou o acesso de seus clientes a certos sites da Web que criticaram as práticas empresariais da empresa. A internet de duas classes abriria as portas para esse tipo de abuso, dizem as organizações.

Já é uma realidade

Em vez disso, os críticos querem definir legalmente o princípio de "neutralidade da rede". Especialistas em computação como Kristian Köhntopp, porém, advertem que essa expressão carismática é imprecisa demais. "A internet muitas vezes já não é neutra", explica Köhntopp. Muitos pacotes de tarifa única são enganadores e "provedores reduzem a velocidade seletivamente sem informar os clientes".

"Ativistas e empresas tendem a falar como se a internet de duas classes fosse uma visão do futuro, mas já se tornou uma realidade há tempo", diz Bernd Holznagel, diretor do Instituto de Informação, Telecomunicações e Direito da Mídia da Universidade de Münster.

Ele acha especialmente incômodo que algumas empresas escolham seletivamente o que bloquear. A T-Mobile, por exemplo, impediu seu competidor Skype fosse ser usado no iPhone. Agora, diz Holznagel, para usar o Skype é preciso pagar uma taxa extra de 10 euros (em torno de R$ 25).

"Precisamos de uma cláusula contra a discriminação para tornar a competição e a inovação possíveis", diz Holznagel. Ele também sugere que os serviços básicos sejam abertamente disponíveis, como é o caso de serviços postais ou de rádio. Isso poderia criar um meio termo.

Distraído por questões menores

"Em vez de política simbólica, precisamos de definições do que a neutralidade da rede realmente deve ser – e é aqui que a proposta da Google/Verizon é útil", diz Holznagel. Agora, acrescenta, os políticos precisam dar o próximo passo.

Holznagel há muito espera uma versão preliminar da emenda à Lei de Telecomunicações da Alemanha que o governo federal deve apresentar até meados de 2011, de acordo com as diretrizes da União Europeia. "A emenda à lei de Telecomunicações é extremamente importante e há bilhões de euros envolvidos", diz ele.

Ele acha, contudo, que a atenção está sendo distraída por outros debates menos importantes, tais como a atual controvérsia em torno do serviço Street View da Google, que será lançado na Alemanha no final do ano e que foi criticado por temores relativos à privacidade. "Os políticos preferem fazer alarde com questões menores como o Street View da Google", diz Holznagel. "Afinal, fotografar prédios é mais fácil de entender."