quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A China em Rede

Por Débora Ribeiro Coelho

No último dia 8 de setembro, a jornalista chinesa Lijia Zhang esteve no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ para falar um pouco sobre seu livro recém-lançado, “A garota da fábrica de mísseis”. Depois de falar da sua trajetória de vida, abriu espaço para algumas discussões. Dentre elas figurou a censura à Internet em seu país de origem.
 
Lyjia teve no idioma americano o impulso que precisava para se soltar das amarras do regime comunista que vigorava na China. Não absorveu apenas o inglês, mas também o pacote cultural vendido pelos EUA, em especial o ideal de individualismo. Começou, então, a questionar o mundo em que vivia. Queria interagir, sair daquela prisão representada pela fábrica de mísseis onde trabalhava.
 
A chinesa chegou a liderar um movimento dentro da fábrica, no final da década de 1980, como resposta à imposição de regras que tanto a incomodava. Na época buscava informações nos poucos livros disponíveis, num momento em que a educação não era valorizada como hoje.
 
De lá para cá muita coisa mudou na China, como a própria escritora comenta. O governo começou a conceder liberdades individuais porque percebeu que era importante fazer com que as pessoas se sentissem felizes. Entretanto, ainda há restrições e ressalvas. Lyjia escreve para diferentes meios de comunicação internacionais, mas em inglês. Da mesma forma, seu livro não foi publicado na China porque o assunto ainda é considerado um tabu.

Apesar de o país ser a segunda economia mundial, muitos avanços ainda são esperados. Uma das maiores polêmicas quando o assunto é a censura diz respeito à Internet. Segundo uma pesquisa publicada na Revista Exame, a penetração da Internet no país se assemelha à de países desenvolvidos. Dos 420 milhões de usuários, mais de 100 milhões estão nas zonas rurais. Os números representam, de fato, um avanço notável.

Ao mesmo tempo em que se incentiva o desenvolvimento da Internet, o governo continua a empreender uma série de medidas de controle e censura. O acesso a determinados sites não é permitido, como o Twitter ou o Facebook, da mesma forma em que há conteúdos vetados de suas páginas da Web.

Um exemplo prático é o desenvolvimento do Escudo Dourado (popularmente conhecido como a “Muralha da China”), conjunto de medidas técnicas que visam impedir o acesso dos internautas a sites que falam de assuntos como direitos humanos ou protestos em território chinês. Existem, ainda, outros mecanismos empreendidos, embora sempre negados pelo governo.

No início deste ano, a polêmica atingiu a gigante Google, que disse ter sido alvo de hackers chineses e ameaçou sair do país. Como a empresa americana não queria continuar censurando conteúdos a pedido do governo, a solução foi acabar com essa página. Ao acessar google.cn, o internauta é transferido para a página de Hong Kong, que não possui esses cerceamentos.

Em pleno século XXI, quando as informações estão amplamente difundidas, é, no mínimo, contraditório um gigante como a China manter tamanho controle sobre a Internet. O que se espera é que o país invista em algo que vá além do status de potência econômica, dando voz e olhos à sua população sem que para isso seja necessário aprender outro idioma.

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