domingo, 27 de setembro de 2009

Se há sangue, então há notícia

Correspondente da Reuters explica porque o Oriente Médio repercute tanto na mídia

“Depois do petróleo, a notícia é o principal produto exportado pelo Oriente Médio”. Foi com esta frase que Dan Williams, correspondente da Agência Reuters em Israel, definiu a importância da cobertura jornalística naquela área. Convidado pelo portal Comunique-se, o jornalista inglês analisou, durante seminário realizado na última quarta-feira (23/09), na Escola de Comunicação da UFRJ, os principais temas que proporcionam à região tanto espaço na mídia: petróleo, religião e guerras.

Segundo Dan, aproximadamente 500 jornalistas estrangeiros trabalham em Jerusalém, o que é de se espantar, considerando o reduzido espaço geográfico do local. “Seria uma grande surpresa se tivéssemos 80, ou até mesmo 50 correspondentes internacionais aqui no Brasil, que é um país com dimensões muito maiores”, explicou. Na opinião do jornalista, o noticiário sobre o Oriente Médio é tão interessante para as pessoas porque há um fascínio geral pela violência. “If it bleeds, leads”, ironizou Dan, citando o trocadilho que, traduzido, significa algo como “se há sangue, então há notícia”.

E causas para conflitos violentos não faltam no Oriente Médio. O fundamentalismo islâmico, que obriga o seguimento da religião muçulmana através do poder político, é algo que, para o especialista inglês, dificilmente terá um fim. Já a questão do petróleo, que tornou-se uma arma política nas negociações entre os governos, na visão dele, também é muito delicada, pois trata-se de um recurso não-renovável fundamental para o sustento mundial. Sobre a disputa territorial entre israelenses e palestinos, porém, Dan não soube dizer se, após 2 mil anos, um povo ainda pode requerer seus direitos. “Mas tudo que é relativo ao drama humano, é de interesse jornalístico”, resumiu.

Reforçando a nobreza da profissão, o correspondente fez questão de ressaltar a importância do jornalismo. “Nós, jornalistas, somos guardiões da democracia e da livre expressão. Sem nossa atividade seria muito difícil sonhar em construir sociedades melhores”, afirmou. Residente em um local seguro, fora da Faixa de Gaza, Dan se considera um privilegiado por poder trabalhar em Jerusalém. “Essa é uma guerra cinco estrelas, é um luxo poder cobri-la”, opinou. Aos risos, ele contou que a única vez que correu risco de vida foi quando esteve dentro de um tanque de guerra, que foi bombardeado por cinco horas, para fazer uma reportagem. “Não me aconteceu nada, mas até hoje minha mulher não sabe disso. Ainda bem que ela não lê o que escrevo”, brincou.

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