segunda-feira, 5 de julho de 2010

"Cortei o intermediário"


"Um filme para se ver muitas vezes". O mote de lançamento de Onde andará Dulce Veiga, de Guilherme de Almeida Prado, poderia involuntariamente guardar um amargo tom irônico. Lançado em 2007 pela Califórnia Filmes, a produção adaptada do livro homônimo de Caio Fernando Abreu rodou o país com apenas duas cópias e sequer foi lançado em DVD. Descontente com a distribuidora, Prado pôs fim a seu imbróglio. Há três meses, Onde andará Dulce Veiga está disponível em diversos programas de compartilhamento de dados, no Megaupload e até no Youtube. Algo que ele, curiosamente, incentiva.

Em Onde andará Dulce Veiga, Carolina Dieckman encarna uma roqueira lésbica drogada e os garbosos Eriberto Leão e Carmo Della Vechia protagonizam um beijo gay abrasador. Não bastasse, Maitê Proença vive uma diva fadada ao ostracismo, alvo da obsessão de um jornalista. Um elenco global num romance de um dos maiores escritores da década de 80, beneficiado por uma pitada polemista. Nada parece justificar o possível fracasso da produção. "Eu me vi refém da Ancine para distribuir meu filme. Tive que enfrentar uma má vontade absurda por parte da distribuidora", desabafa Prado.

"Para o DVD, havia um plano de lançamento ridículo. Não haveria extras, eu não podia nem mesmo olhar a versão antes de ser lançada", reclama, indignado, o diretor consagrado por filmes como A dama do Cine Shangai (1987) e Perfume de Gardênia (1992). "Diante das opções, desisti do lançamento para jogar o filme na internet. Não iria ganhar nenhum dinheiro mesmo, então cortei o intermediário". Até a versão acessível para o usuário num link único, Prado contou com o auxílio de amigos e fãs, numa verdadeira comunidade colaborativa no Orkut. "Eu não fazia ideia de como colocar meu filme em AVI, por exemplo. Um amigo do Paraná ajudou", conta. "Não entendo nada disso, mas fui levando com a ajuda do pessoal. Só sei que hoje tem até no Youtube", diverte-se.

"Foi uma boa solução, estou muito satisfeito. Quem quiser ver está lá, não tenho que enviar cópia para ninguém... E esse é o futuro do DVD, né? Esse disco de plástico vai acabar", prevê o cineasta. Por essa via, a divulgação volta aos primórdios e se faz no bom e eficiente boca a boca. "Alguns fãs hospedaram em outros links, disponibilizaram em seus blogs. Uma menina me enviou um e-mail falando que só no site dela já tinham mais de 300 acessos", orgulha-se. Nem o lançamento pela internet, entretanto, escapa da pirataria. "Meu DVD foi encontrado no interior de Pernambuco. Um DVD pirata!", brinca.



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